ATA DA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 04.04.1989.
Aos quatro
dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e nove, reuniu-se, na
Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre,
em sua Terceira Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da
Décima Legislatura, em homenagem ao transcurso dos oitenta anos do Sport Club
Internacional. Às dezessete horas e nove minutos, constatada a existência de
“quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes
de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes.
Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto
Alegre; Prof. Olívio Dutra, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Dep. Valdomiro
Vaz Franco, representando a Assembléia Legislativa do Estado; Dr. Pedro Paulo
Zachia, Presidente do Sport Club Internacional; Dr. Luiz Bastian de Carvalho,
Presidente do Conselho do Sport Club Internacional; Sr. Arthur Dallegrave,
ex-Presidente do Sport Club Internacional; Dr. Ephraim Pinheiro Cabral,
ex-Presidente do Sport Club Internacional; Dr. Hélio Carlomagno, ex-Presidente
do Conselho do Sport Club Internacional; e Ver. Adroaldo Correa, 3º Secretário
da Casa. A seguir, o Sr. Presidente convidou os presentes a, de pé, ouvirem a
execução do Hino Nacional; fez pronunciamento alusivo à solenidade, enfatizando
ser o Clube homenageado uma referência do próprio futebol nacional; e concedeu
a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. Antes, porém, anunciou a
participação do Coral do Sport Club Internacional, sob a regência do Maestro
Jean Marie. O Ver. Nelson Castan, em nome da Bancada do PDT e do PL, falou de
seu orgulho ao requerer a homenagem ao Sport Club Internacional e da sua
satisfação ao relembrar que expoentes de seu Partido muito colaboraram na
materialização e edificação da glória desse Clube. O Ver. Giovani Gregol, em
nome da Bancada do PT, cotejou regras técnicas do futebol com a realidade
política; definiu futebol como um universo democrático, afirmando que o Clube
homenageado ensina a convivência democrática e fraterna entre os homens. O Ver.
Ilo Sperb, em nome da Bancada do PSB, fez um breve relato da história do Clube
Colorado, enfatizando sua atuação social na promoção do esporte em geral para a
comunidade, e sua condição de agremiação essencialmente popular. O Ver. Vicente
Dutra, em nome da Bancada do PDS, relatando a história do Sport Club
Internacional, enumerou personalidades, diretorias e torcedores que trabalharam
para a feitura do presente do Clube. Salientou, também, a condição
eminentemente popular dessa agremiação e a contribuição de seu Partido para a
projeção e glória do Clube. O Ver. Airto Ferronato, em nome da Bancada do PMDB,
traçou breve histórico da fundação e progresso do Clube. Manifestando seu
orgulho pela comemoração dos 80 anos do Sport Club Internacional, enfatizou a
qualidade de agremiação despojada de preconceitos. E o Ver. Artur Zanella, em
nome da Bancada do PFL e do PTB, lembrou fatos de sua vida particular ligados à
história do Sport Club Internacional, asseverou que o Clube, mais do que parte
da história da cidade, é a imagem do espírito gaúcho. Em continuidade, o Sr.
Presidente concedeu a palavra ao Prefeito Olívio Dutra que leu poesia,
intitulada “A Nave do Beira-Rio”, escrita pelo poeta Laci Osório, a qual
exprime os sentimentos ufanos do poeta pelo Clube; e ao Dr. Pedro Zachia que,
em nome do Sport Club Internacional agradeceu as manifestações de apreço e a
homenagem prestada pela Casa. Após a execução do Hino do Sport Club
Internacional pelo Coral, o Sr. Presidente convidou as autoridades e
personalidades presentes a passarem ao Salão Nobre e, nada mais havendo a
tratar, levantou os trabalhos às dezoito horas e vinte e dois minutos,
convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora
regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e
secretariados pelo Ver. Adroaldo Correa. Do que eu, Adroaldo Correa, 3º
Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada,
será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.
O SR. PRESIDENTE: Com prazer, então, solicito
às Lideranças que nos façam a gentileza de introduzirem ao Plenário as
autoridades e personalidades convidadas. Os Vereadores Airto Ferronato,
Adroaldo Corrêa, Dilamar Machado, Vicente Dutra, Verª Letícia Arruda, por
gentileza, conduzam ao Plenário as autoridades presentes.
É com um prazer muito grande, também, que registramos a presença do
Coral do Internacional, sob a regência do maestro Jean Marie.
A Casa abre o seu Plenário esta tarde, com muita honra, para festejar
mais um grande acontecimento da nossa terra, os 80 anos do Sport Club
Internacional. Esta festa não é só da grande torcida colorada, mas do próprio
esporte brasileiro, assim quando se refere seguidamente o nosso querido
Presidente Paulo Zachia, que está aqui ao meu lado.
Daquele distante 4 de abril de 1909, a informação que eu tenho, e tenho
certeza que o Ephraim e os demais companheiros, aqui presentes, estão
lembrados, dizem que foi fundado o Internacional num porão de uma residência.
Alguém, talvez, vai explicar melhor da tribuna esse detalhe.
E nós, que temos acompanhado o Internacional, não somos tão jovens e
nem tão velhos assim, participamos do juvenil do Internacional em 1961, numa
passagem rápida. O treinador me perseguiu muito, logo em seguida eu tive que
voltar para a União Erechim do Bairro Nonoai, hoje Clube Nonoai. Mas tive uma
passagem rápida e conheci bem o Internacional, e conheci alguns companheiros
que em algumas partidas jogamos juntos como, Flávio Bicudo, Paulo Araújo e mais
alguns companheiros, como o Guaporé, nas saídas dos jogadores. Quem me buscou
no Bairro Nonoai foi o nosso querido amigo Abílio que tantos atletas fez para o
Internacional e para nossa Cidade.
Eu saí fora do discurso que estava escrito, porque a gente vai se
emocionando e relembrando aqueles tempos que passaram tão rápido e não soubemos
aproveitar.
Como nós temos os Vereadores para se pronunciarem, a Presidência
rapidamente saiu do protocolo, em vez de ler o discurso como Presidente da
Casa, inventou de se perder dizendo que foi atleta do Internacional.
Com a palavra, o requerente desta Sessão Ver. Nelson Castan, que fala
em nome do PDT e do PL.
O SR. NELSON CASTAN: Sr. Valdir Fraga, Presidente
da Câmara Municipal de Porto Alegre; Sr. Olívio Dutra, Prefeito Municipal de
Porto Alegre. Srs. Vereadores, Senhores e Senhoras, me permitam fugir um pouco
do meu hábito, farei um pronunciamento lido para que a emoção não traia a
gente, ao longo do percurso.
Um clube que nasce para ser o clube de todos, tem traçado na sua gênese
o destino de ser grande. O Sport Club Internacional, no decorrer dos seus
oitenta anos de história, tem confirmado a cada dia o ideal que moveu os irmãos
Poppe, no dia quatro de abril de mil novecentos e nove, a fundar o clube do
povo do Rio Grande do Sul. A camisa rubra do Inter, da cor do sangue que corre
igual nas veias de todos, tem levado e honrado o nome de Porto Alegre e do Rio
Grande por gramados nos mais distantes lugares. Para nós, homens públicos, é
antes de tudo um dever homenagear a quem tão bem representa a alma e o espírito
da gente da nossa terra.
Assim como o Colorado, somos, neste instante, porta-voz de um
sentimento que não é exclusivamente nosso, mas que está expresso em cada canto
do País onde haja um amante do esporte. Gostaria de fazer destas palavras um
reconhecimento a todos que construíram as oito décadas de pura emoção que ora
celebramos.
A cidade de Porto Alegre agradece ao Sport Club Internacional pela
honra de ter sido palco de tantas e tantas conquistas. Fica marcada, neste
momento, a certeza de que muitas outras virão, pois a essência do que buscavam
os primeiros colorados permanece viva nas arquibancadas do Gigante da
Beira-Rio. A cada jogo, a cada gol, reacende-se a chama de luta, trabalho e
dedicação que alimentou a construção do complexo da Beira-Rio. O parque
náutico, o Gigantinho e o estádio Pinheiro Borda são a garantia de um lazer ao
alcance de todos, um exemplo de atividade salutar e democrática.
O esporte amador, parte integrante da nação colorada, tem tido papel de
destaque na formação de atletas nas mais variadas modalidades. Vários títulos
gaúchos, brasileiros e até mesmo continentais vêm sendo trazidos para Porto
Alegre pelos alunos das escolinhas do Internacional.
É, mais uma vez, a grandeza da trajetória marcada pela força dos que
acreditam no que fazem. Como os passos rápidos e seguros do pequeno atleta que,
há alguns anos, corria descalço pela pista do Beira-Rio, assim é o caminho
percorrido pelos homens que foram e são sujeitos da história da Chácara dos
Eucaliptos, do rolo-compressor, do octacampeonato gaúcho, do gol de Figueroa
contra o Cruzeiro, da medalha de prata em Los Angeles e de todos os momentos de
glória que virão.
O meu partido, o PDT, sente-se orgulhoso pela iniciativa de saudar, em
Sessão Solene, o aniversário do Internacional. Este orgulho é compartilhado,
com certeza, com os homens públicos que, de uma forma ou outra, contribuíram
para o brilho desta data. Foi o então prefeito Leonel Brizola quem, em 1956,
doou a área para a construção do Beira-Rio. Foi Alceu Collares quem batizou o
ginásio municipal com o nome de Osmar Fortes Barcelos, homenageando a memória
de Tesourinha, que defendeu as cores do Internacional.
Presidente, vice-presidentes, conselheiros, diretores, cônsules,
representantes, atletas, funcionários e torcida do Sport Club Internacional:
cumprimos honrados a missão de reverenciar os oitenta anos de história do
Colorado.
Dentro e fora do campo, permanece a certeza de que o clube do povo do
Rio Grande do Sul continuará dignificando o nome da cidade de Porto Alegre.
(Palmas.)
(O Coral canta.)
O SR. NELSON CASTAN: Aos senhores convidados que
compõem a Mesa, aos Vereadores, para mim foi uma emoção muito grande e ao Inter
muitas e muitas conquistas pela frente. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver.
Giovani Gregol que falará em nome da Bancada do PT.
O SR. GIOVANI GREGOL: Exmo Sr. Olívio
Dutra, Prefeito do Município de Porto Alegre; Exmo Sr. Ver. Valdir
Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Exmo Sr. Dr.
Pedro Paulo Zachia, Presidente do Sport Club Internacional, demais autoridades
aqui presentes; colegas Vereadores; senhoras e senhores. É, para mim, uma honra
e uma satisfação muito grande, Vereador jovem que sou do Partido dos
Trabalhadores, na sua primeira Legislatura, subir esta tribuna para homenagear
o meu querido Clube, Clube do coração, Sport Club Internacional, no dia do seu
aniversário, uma história de grandes emoções, de grandes lutas e de grandes
conquistas.
Time que começou pequeno, humilde, fundado em 04 de abril de 1909,
recebeu uma série de apoios crescentes, da família dos célebres irmãos Poppe,
Henrique, Luiz e José, que, inclusive, sugeriram o nome do time, time que
acumulou grandes títulos: Tri-Campeão Nacional, muitas vezes Campeão Regional,
na época do rolo compressor, depois Octacampeão, e assim por diante, e que,
certamente, ainda conquistará muitos títulos inéditos. É uma instituição já da
história e da cultura do Rio Grande do Sul e do Brasil. Eu, como socialista que
sou, como membro de um Partido que se identifica com o socialismo, me sinto
muito à vontade em vir aqui, em nome da nossa Bancada, homenagear esse Clube,
porque, sem demérito a todos os outros Clubes do Brasil e do Estado, nós
sabemos que o Sport Club Internacional sempre foi um clube realmente popular,
enraizado na população, no povão desta cidade de Porto Alegre e deste Estado do
Rio Grande do Sul, onde o branco, negro, todas as raças sempre confraternizaram
em absoluto pé de igualdade, e assim continua sendo e assim continuará, sem
dúvida nenhuma, porque o Internacional jamais trairá a sua história, jamais
trairá as suas origens. Clube que construiu a sua glória sempre baseado no seu
maior patrimônio, aliás, naquilo que é o maior patrimônio de todos nós, que é o
maior patrimônio do País, da Pátria, do Estado, que é a população, as pessoas
comuns, os populares que dão apoio, construiu, desde o seu primeiro estádio,
onde estudei a história do Clube, desde o seu primeiro campo de futebol que foi
construído limpo, cedido pelo Departamento de Limpeza Urbana, manualmente pelos
próprios associados, torcedores do Clube, depois foi crescendo, conseguiu um
campo perto do Pronto Socorro, mas lá havia um outro clube que também usava a
área, o Clube dos Estudantes do Colégio Militar e os nossos torcedores
resolveram que teríamos que ter o nosso espaço próprio e se partiu para a área
do Estádio dos Eucaliptos, que foi construído com o esforço dos torcedores do
time, da população, dos simpatizantes, dos associados do Esporte Clube
Internacional. Depois, foi reformado o Estádio dos Eucaliptos, para a Copa de
1950, e lá, vários times estrangeiros, seleções de vários países, jogaram, com
casa cheia, mais de 20 mil pessoas, que é um público considerável hoje, muito
mais na época. E eu tive a oportunidade, na minha curta vida, mas não tão
curta, 30 anos, de acompanhar toda a luta do Internacional, e isto me dá uma
grande emoção em recordar, a luta de construção, de elaboração, de concepção,
de realização, de inauguração do Esporte Clube Beira Rio, que fomos nós que
acompanhamos, vocês que são mais antigos, que certamente, antes de mim,
acompanharam. Foi um ato gigantesco, titânico. E me lembro da Campanha do
Tijolinho, o meu pai, que está aqui presente, me levava lá, quando não havia
nada lá, só um descampado na região. Depois, a Churrascaria Saci, que deu
certo, a qual nós demos força. Minha família também participava da Campanha do
Tijolinho, íamos lá nos fins-de-semana ensolarados, de inverno, de verão ou de
primavera, assim como todas as famílias dos torcedores iam confraternizar e
dizer que íamos construir aquele estádio, tijolinho por tijolinho. E nós
chegamos lá. Não foi beneplácito de nenhum poderoso, não foi, como muitas vezes
se faz neste País, através de arreglo, ou através de nenhum recurso menos
legítimo ou legal. Foi através do esforço mais nobre da nossa torcida, com a
ajuda de autoridades que contribuíram também com a sua parte neste quinhão.
Mas, sem o esforço desta base, o Inter não seria, hoje, o que ele é e não
poderia seguir, inclusive, a sua longa carreira de vitórias. Não careço mais
falar de nossas glórias, que são muitas, outros irão falar, e que estão na
história. Eu queria apenas concluir a minha intervenção dizendo que existem
muitos mitos na nossa História e na nossa cultura. Ontem mesmo tivemos aqui uma
discussão muito didática, muito esclarecedora, interessante sobre assuntos da
nossa História e quero dizer que muitas pessoas são acusadas de pensarem -
inclusive os partidos socialistas, os partidos de esquerda - que o futebol é o
ópio do povo devido àquela utilização malfadada que todos nós assistimos que é
a ditadura militar, recentemente aniversariada no nosso País, fez do futebol, a
Copa de 70, o Sr. Emílio Garrastazu Médici com o radinho de pilha, etc.,
enquanto as nossas prisões estavam cheias. Havia tortura, havia assassinatos,
exílio no nosso País, os partidos políticos na sua maioria proscritos e assim
por diante. Mas isto não é culpa do futebol, nem dos times de futebol e nem do
povo que gosta de futebol. Esta é uma conclusão absolutamente apressada,
anticientífica e anti-histórica. Pelo contrário, uma análise mais ponderada
mostra que o futebol na nossa cultura é um dos depositários do que há de melhor
na nossa cultura, que é uma cultura que tem uma vertente autoritária,
antidemocrática, elitista, mas que o futebol inclusive nos mostra, nos ajuda a
mostrar o outro lado da moeda. E o esporte clube internacional tem a ver muito
com isto por aquilo que eu citei, que nós sabemos e por isso eu faço esta
referência. Por exemplo: apesar do que acontece na nossa vida política
institucional, na Administração da economia do nosso País, na Administração
Pública, no Brasil a torcida derruba o técnico. Se o técnico é incompetente
muitas vezes cai com a pressão da torcida. Imaginem se isto acontecesse com o
Presidente da República, se mostra-se incompetente sai, aliás, este está
ficando muito. Então, isto é a população se mobilizando e exigindo os seus
direitos e isto no futebol se concretiza. As regras no futebol valem para
todos. Se alguém discorda das regras não há jogo. Pode-se discordar sobre a interpretação
das regras, mas todos a aceitam, então é um espírito profundamente democrático.
Uma lição de democracia que o nosso povo dá e recebe dia-a-dia no futebol.
No futebol, contrariando o espírito autoritário, totalitário, o
objetivo nunca é exterminar o adversário, matá-lo, extingui-lo, o objetivo é
ganhar o jogo e quem perde o jogo hoje, quem perde o campeonato hoje pode se
recuperar e ganhar, amanhã. Perde o jogo, o campeonato, mas não perde o
futebol, aliás a nossa vivência, a minha vivência diária no esporte mostra que
não é bom, nunca é bom, nunca é sábio humilhar ou se espezinhar demais,
tripudiar sobre o inimigo, um adversário derrotado, porque amanhã, este
adversário hoje humilhado pode se recuperar, formar uma equipe melhor e pode
nos dar o troco mais cedo ou mais tarde. Então, o futebol ensina,
profundamente, de forma profunda a convivência democrática e fraterna entre os
homens em geral.
E o futebol finalmente se decide no campo, há o tapetão muito raro, mas
nunca é lícito, nunca é honesto, nunca é visto com bons olhos, nunca é
considerado legítimo ganhar no tapetão, futebol se ganha no campo e a equipe
poderosa, a equipe forte e favorita pode perder, pode haver a zebra, ela é rara
mas ela acontece muitas vezes. Isso num País em que é comum, em que os
poderosos vençam nos bastidores em que as regras valem para alguns e não para
outros, em que muitas vezes ao meio do jogo mudam as regras - estão aí as
nossas regras econômicas a mudar ao sabor dos ventos e do entendimento muitas
vezes pouco acertado dos nossos governantes - uma instituição como a
instituição de futebol é uma guardiã das nossas melhores tradições e sem dúvida
nenhuma dentro destas tradições o Sport Club Internacional é não só no Rio
Grande do Sul mas no País em geral e nas próprias Américas um dos expoentes
desta lição e desta caminhada que o esporte e a cultura ensinam a toda
humanidade para convivermos e sermos fraternos, vivermos democraticamente e
buscarmos todos juntos a nossa felicidade. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Nós registramos com muito
prazer e muita honra nesta Casa, a presença do ex-Presidente Heraldo Hermann.
V. Sª se considere aqui na Mesa como os outros companheiros de diretoria. É um
prazer muito grande em receber V. Sª.
Concedemos a palavra ao Ver. Ilo Sperb que fala em nome da Bancada do
PSB.
O SR. ILO SPERB: Exmo Sr. Ver.
Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Exmo
Sr. Olívio Dutra, Prefeito Municipal, demais autoridades e convidados aqui
presentes, Senhores Vereadores, Senhoras e Senhores. (Lê.)
“Inicio a minha homenagem, dizendo Glorioso Colorado do Beira-Rio.
Glória do desporto nacional, hoje com projeção internacional, esta completando
80 anos de existência. Desde sua fundação, quase um século se passou, porém
esse clube extraordinário não desperdiçou um só momento, acumulou títulos e
conquistou uma das maiores torcidas do Brasil.
Seguiu sua caminhada gloriosa que o destino de grande clube lhe
reservara, destacando atletas que se transformaram em verdadeiros símbolos,
projetou-se nacional, e internacionalmente, venceu desafios e adversários,
formou patrimônio e transformou-se no clube da década de 1970 com a conquista
de três títulos nacionais e oito títulos regionais consecutivos, passando a ostentar
o portentoso título de Octacampeão do Rio Grande do Sul.
Mas não parou aí a notável história do Internacional em seus 80 anos.
Clube que sob todos os aspectos dignifica o desporto gaúcho e nacional,
prestando notáveis serviços à coletividade, participando e dignificando normas
de convivência no esporte. Desenvolvendo a máxima desportiva, definindo e
materializando os princípios que norteiam e motivam os autênticos anseios dos
desportistas rio-grandenses.
O Internacional sempre acreditou no atleta gaúcho, promovendo jovens
vindos das categorias inferiores, formou e projetou verdadeiras gerações de
craques extraordinários que elevaram o nome do glorioso Internacional, impondo
respeito e reconhecimento a todos os povos de todos os continentes.
Agremiação essencialmente popular movimenta-se pelos sentimentos,
existe a paixão como comportamento, mas é latente a necessidade do trabalho, da
dedicação, da produtividade para justificar a permanente mobilização, cujo
objetivo é sempre a busca da vitória. O Internacional é grande porque
desenvolveu-se oferecendo condições de participação, incentivando o crescimento
de outras agremiações similares, propõe a disputa, acorda os sentimentos,
promove a emoção, oferecendo alternativas pela criatividade.
Parabéns, colorado, tua grandeza é alicerçada no extraordinário
espírito de luta do atleta e do povo gaúcho e na crença de tua fantástica
torcida, que vaia, grita, xinga, vibra e canta na tua vitória, mas que
manifesta seu amor nas lágrimas quando é abalada com uma derrota. Segue em
frente Internacional tua trajetória vitoriosa, trazendo a tua imensa torcida
renovadas alegrias com muitos títulos.”
Felicidades e muito sucesso. (Muito obrigado.) (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Vicente Dutra fala em
nome da Bancada do PDS.
Sr. Presidente, autoridades, Srs. presentes e Srs. Vereadores, a Casa do Povo de Porto Alegre se engalana para homenagear o Clube do povo, na comemoração de seus 80 anos de glória. E por estar tão vinculado ao passado que projetou este presente de realizações e glórias que o PDS, pelo qual falo neste momento, tem redobrados motivos de festejar esta efeméride.
A frase que encabeça este pronunciamento foi extraída do “Gigante
Beira-Rio” de Carlos Lopes dos Santos e sintetiza de forma magistral a
importância da trajetória do nosso colorado.
A história do Internacional será reescrita a cada ano, a cada jogo
decisivo, a cada lance de ousadia, dentro do campo ou na administração. A vida
do Sport Club Internacional originou-se da significativa contribuição de
estudantes, principalmente do Colégio São Leopoldo (hoje Unisinos), do colégio
dos Irmãos Lassalistas de Canoas e do Colégio Júlio de Castilhos de Porto
Alegre. Foi, porém um grupo de jovens do comércio e moradores dos arrabaldes
Azenha e Menino Deus que fundaram em 04 de abril de 1909, essa sociedade, a
qual tinha como fins o cultivo do futebol, o belo esporte bretão e
representaria o Bairro Menino Deus. Sonhavam com uma brilhante equipe de
futebol para o futuro. Não imaginaram, porém, a glória, a pujança, o orgulho
para o Rio Grande e Brasil e o modelo de sociedade que se transformaria o
Internacional em 80 anos de existência. Além de se tornar uma estrela brilhante
é modelo empresarial que se mantém até nossos dias. Em seus objetivos está a
busca de bons resultados esportivos e também do bom resultado financeiro,
caminho onde deverão passar as sucessivas direções Club para mantê-lo na
elevada dignidade alcançada e consideração que lhe é dispensada no Brasil e no
Exterior.
Sabemos que um povo sem território não se constitui uma Nação. Assim
entendia, também, a nação colorada que sem território, partia em sua busca.
Nesse aspecto, especial relevância nos merece o Capitão Graciliano Ortiz que
eleito presidente honorário da nova agremiação, passou a ter responsabilidade
de conseguir a área para que fosse construído o campo de futebol. O Capitão
Ortiz sendo alto funcionário da Prefeitura, exercendo o cargo de Sub-Intendente
da Azenha, fez surgir, então o primeiro campo de futebol do Internacional
situado na rua Arlindo, bairro Menino Deus, hoje Sport Club Internacional, nos
fundos do atual Hospital Porto Alegre. “Foi inaugurado no dia 25 de abril de
1909, numa ensolarada tarde de domingo.”
É fundamental que se esclareça que o Capitão Graciliano Ortiz não foi
guindado ao cargo no Club apenas para esta finalidade, mas também, no sentido
de trazer responsabilidade e segurança que faltava aos demais por serem muito
jovens.
Continuando sua caminhada a sua diretoria, em 1912, transfere o campo
para a área locada na chácara dos Eucaliptos, na rua da Azenha onde foram
construídas arquibancadas de madeira, o campo foi cercado e dotado de todos os
melhoramentos exigidos, como vestiários para jogadores e visitantes. Só em 1931
foi inaugurado o campo da rua Silveiro, por todos nós conhecido como o velho
Estádio dos Eucaliptos. Foi porém, “em 06 de abril de 1969, na comemoração do
sexagésimo aniversário de fundação do clube, inaugurado o Gigante da Beira Rio,
diante de uma multidão de cem mil pessoas.” A margem do Guaíba, “o encanto de
um rio navegável em toda a sua extensão e que todas as épocas desliza sua
imensa massa de água em direção ao mar”, recebia o estádio da Cidade, emergindo
do seu próprio leito, o qual irá emoldurar com encanto, para as glórias do
Sport Club Internacional.
“Nesse mesmo seio que abrigou os barcos, trazendo desde Portugal os
primeiros casais de Açorianos, forjadores de uma raça que é o coração do
Continente de São Pedro”, hoje abriga, também em suas margens o Gigante da
Beira Rio, impulsionando a família colorada no fortalecimento de suas
convicções.
Sabemos que tudo isso não se realizou por acaso, o primeiro passo
articulado em 1909 era o início da longa caminhada, seguida por dezenas de
heróicos homens que, obstinadamente, dedicaram seus esforços, carinho e
abnegação para que o seu querido Clube conquistasse suas glórias. Enumerá-los
esgotaria o tempo total desta Sessão e não concluiríamos. Desejamos, no
entanto, nos deter em alguns deles que são ou que foram os mais representativos
nas realizações deste grandioso Club.
Independente da ordem de grandeza dentro do Clube, nos permitimos falar, inicialmente em Carlos Lopes dos Santos. Colorado de longa memória, com dedicação e amor pelo clube, nos oportuniza essa riqueza de informações sobre a vida do nosso Internacional em seu livro “O Gigante da Beira-Rio”, onde conta, com muita clareza, a história do seu clube de coração. Lembramos depois de Ildo Meneghetti que desde 1912 dedicou muito de sua vida profissional e particular em benefício do Clube. Mas, sua decisiva atuação se reflete na atitude de comprar e instalar o Internacional na Rua Silveiro, onde se encontra ainda hoje o Estádio dos Eucaliptos, o qual leva o nome de seu patrono Ildo Meneghetti. Lembramos, ainda, nomes como Ephraim Pinheiro Cabral, Telmo Tompson Flores, José Pinheiro Borda e Ruy Tedesco, denominados arquitetos do Beira-Rio. Destaque especial merece ser dado a Ephraim Pinheiro Cabral que, com grande determinação lutou, nesta Casa, pela aprovação do Projeto de Lei n° 63, de 14 de setembro de 1956, doando 7 hectares a serem recuperados no leito do Rio Guaíba. Nessa luta contou com o apoio de Adauri Pinto Filippi e José Zachia que, com coerência, justiça e ponderação conseguiram aprovar o Projeto, apesar das contrariedades encontradas para sua discussão e aprovação. Resultou, desse trabalho, a doação definitiva, através da Lei n° 1.651, de 09 de janeiro de 1956. A área, no entanto, só foi aterrada em 1962. Devemos ressaltar, nessa incumbência, a atuação de Telmo Thompson Flores, cujo desempenho, digo, empenho pessoal na consecução dessa obra tornou-se fator decisivo na transformação da água do Guaíba no aterro necessário para construção do estádio. Nesse trabalho foi utilizada, inclusive, uma draga vinda do Canal do Panamá. Devemos recordar, ainda, os gigantes do passado, como Antenor Lemos, Carlos Kluwe, Viana Moog e o próprio Ildo Meneghetti, entre outros. Referência devemos fazer aos presidentes Carlos Stechemann, Heraldo Hermann, Frederico Arnaldo Balvé, Marcelo Feijó, José Asmuz e Arthur Dallegrave, que levaram o Clube a inesquecíveis conquistas, cuja fase foi denominada “A Era dos Gigantes”. Essa era marcou a conquista do Octacampeonato Gaúcho de Futebol e do Tricampeonato Brasileiro de Futebol, representado, hoje, pelas três estrelas estampadas na briosa camisa colorada. Cumpre registrar, pela singularidade do acontecimento, a participação de Heraldo Hermann na vida do Internacional. Oriundo de Roca Sales, influenciado pelo seu chefe e grande amigo José Prolo e o sogro Briareu Centeno, passou a participar na vida do Internacional, num sentimento de simpatia que constatou através desses amigos e também pela grandeza do Clube. Mas, a sua realização como colorado, temos certeza, foi a felicidade de conquistar na sua gestão, como presidente, o primeiro título da série do tricampeonato, tão almejado por todos os clubes brasileiros. Percorrendo esse raciocínio de realizações e atuações importantes, cumpre mencionar as memoráveis lembranças das estrelas dessa constelação. É uma legião de homens que contribuíram para as vitórias. Jogando, dirigindo ou escrevendo, deixaram seus nomes na história do Clube, tendo, como destaque o próprio Carlos Lopes dos Santos, Luiz Fernando Veríssimo, Paulo Roberto Falcão e Dom Elias Figueroa. Agora, mais recentemente, lembramos as fulgurâncias de Figueroa, Valdomiro Vaz Franco, Rubens Minelli, Gilberto Tim, Dino Sani e outros tantos que possam nos falhar à memória. Devemos enfatizar, ainda, os atuais representantes do Internacional na Seleção Brasileira de Futebol: Taffarel, Luiz Carlos Wink e Nilson. Referência especial desejamos fazer ao atual Presidente Pedro Paulo Zachia que, reprisando a grande administração de seu pai, José Alexandre Zachia, saneou as finanças do Clube e, em conjunto com sua eficiente equipe de trabalho, montou excelente time de futebol que, apenas por acidente, não se consagrou campeão brasileiro em 1988 mas, como vice-campeão, representa o Brasil na Taça Libertadores da América. Sua atuação modernizou a fisionomia do conjunto do Internacional que, com o estádio, o ginásio, a capela e o parque náutico, referencia a magnitude daquelas obras como um cartão postal de Porto Alegre.
Sentimo-nos honrados por vivenciar a glória dessa agremiação através
dos anos e nos parabenizamos desejando a ela, com as nossas congratulações,
outros tantos anos de realizações e de bons serviços ao esporte gaúcho que,
certamente, serão forjados nas glórias de colorados abnegados que, no desejo de
melhor servir o Clube, doam-se plenamente a ele. Muito obrigado. (Palmas.)
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Airto
Ferronato pelo PMDB.
O SR. AIRTO FERRONATO: Sr. Presidente, Ver. Valdir
Fraga; Exmo Sr. Bel. Olívio Dutra, Prefeito de Porto Alegre; Dr.
Pedro Zachia, Presidente do Sport Club Internacional; Srs. Vereadores, Senhoras
e Senhores. (Lê.)
“Venho a esta tribuna falar em nome do PMDB nesta casa, para registrar
com muito orgulho mais um aniversário do nosso Sport Club Internacional.
Desnecessário seria relatar todo um passado de glórias que o clube tem revelado
ao longo de sua história, seja a nível regional, nacional e até mundial.
Permitam-me traçar um breve histórico de suas conquistas desde sua
fundação.
Nos idos de 04 de Abril de 1909 quando os irmãos Poppe, mais um grupo
de rapazes, como Leopoldo Seferin, Legendre das Chagas, Antonio Coiro, entre
outros, criaram um clube cujo objetivo, foi e é, ser uma agremiação despojada
de preconceitos. Com esta idéia surgiu o Clube do Povo, o Sport Club
Internacional.
Através do trabalho destes eméritos colorados, que provavelmente hoje
no céu continuam acompanhando sua trajetória de glórias, que eles talvez nem
tinham a dimensão dos frutos que resultariam das sementes lançadas no seu
primeiro gramado localizados na Rua Arlindo, hoje Praça do Sport Club
Internacional.
Mais tarde, em 1912, sob a presidência de Julio Sellig, o clube aluga a
Chácara dos Eucaliptos onde em 1917 o Internacional conquista o pentacampeonato
da Cidade. Em 1929, surge a idéia da construção de um estádio próprio, quando
na época seu presidente era o saudoso Eng° Ildo Menegheti. Esta idéia toma
corpo, e em 31 de março de 1931 é inaugurado o Estádio dos Eucaliptos.
Decorridos 38 anos de brilhante desempenho do clube e glórias
inesquecíveis, por volta de 1939, os jornais noticiavam as grandes jogadas dos
diabos rubros, que mais tarde seriam chamados de Rolo Compressor. Esta equipe
conquistou o coração de milhares de colorados e deu ao Internacional o primeiro
hexacampeonato em 1945.
Entre as glórias internacionais, quem dentre os colorados não sabe da conquista
do Panamericano no México em 1956, onde o Brasil foi representado pela equipe
rubra e que trouxe em sua bagagem o título para os brasileiros.”
Aproveito, também, para dirigir minha homenagem ao Ver. Ephraim
Pinheiro Cabral, que encaminhou ao Legislativo Municipal um Projeto de Lei
determinando uma área para a construção do novo estádio, e em 06 de abril de
1969, é inaugurado o Gigante da Beira-Rio. Inicia a fase dos anos dourados. Nos
20 anos de Beira-Rio, o Internacional conquistou três títulos nacionais, o
Octacampeonato Gaúcho e por duas vezes foi Vice-Campeão Brasileiro, tendo sido
considerada a melhor equipe da década de 1970, e sabemos nós que também será a
melhor da década de 1980, a nível nacional. Temos a certeza de que neste ano
conquistaremos, se Deus quiser, o Campeonato da América. Vamos chegar lá. Com
este relato, e num instante de reflexão, pode-se afirmar que as conquistas
históricas do Internacional confundem-se com a garra do povo gaúcho e do
porto-alegrense, que, de forma obstinada, ao longo do tempo, sempre soube
defender e perseguir os objetivos de progresso e de desenvolvimento do nosso
Estado e da nossa querida Capital gaúcha.
Finalizando, quero deixar registrado em meu nome e em nome da Bancada
do PMDB desta Casa “Feliz Aniversário” ao glorioso Sport Club Internacional,
pela passagem desta data. Parabéns Internacional, parabéns povo de Porto
Alegre, parabéns a sua Diretoria. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Artur
Zanella que falará em nome do PFL e do PTB.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente Valdir Fraga,
Sr. Prefeito Municipal Olívio Dutra, Dr. Efraim Pinheiro Cabral, onde se
reverencia também a memória de Cid Pinheiro Cabral, maior cronista esportivo
que este Estado já teve; Dr. Hélio Carlomagno; demais autoridades e
representantes do Internacional que aqui estão, meus Senhores, minhas Senhoras.
Esta é uma Sessão que praticamente todos, até os gremistas, gostariam de ter
solicitado. E o último orador, e falo em nome também do Ver. Luiz Braz, do PTB,
que preside neste momento uma Sessão, o último orador tem o seu trabalho
extremamente facilitado, porque praticamente já se disse tudo sobre o Clube.
Mas também tem seu trabalho dificultado, porque se pergunta o que é que ele faz
ali naquele momento, se praticamente tudo já foi dito. E eu diria que, ao
saudar o Internacional, ao pensar o Internacional, eu penso na trajetória da
minha própria vida. Desde criança, na minha longínqua cidade de Itaqui,
acompanhando o rolo compressor, naquilo que eu podia acompanhar, eu me tornei,
Dr. Efraim, torcedor da Portuguesa de Desportos, pelo único e exclusivo fato de
que ela, fita azul do futebol brasileiro, havia perdido em Porto Alegre, por
três a um, do Internacional. Eu inaugurei o Estádio Olímpico do Grêmio, no
rádio, com aquela vitória no torneio da sua inauguração. Eu me lembro que,
então, chegado a Porto Alegre, com o primeiro salário que recebi, no bolso, fui
assistir a um treino do Internacional, lá no alçapão do Nacional, onde hoje é o
Kastelão, e ali treinava, pela primeira vez, um jogador, que até hoje eu não me
lembro se era o Ramiro ou o Álvaro, que vindo do Santos Futebol Clube, e do
Atlético de Madrid, vinha para o Internacional e ali deixei parte do meu
salário, numa lista de contribuição que era muito comum naquela época. Eu me
lembro, tempo de faculdade, uma vez que eu perdi uma prova para ir num dos
últimos jogos dos eucaliptos, as luzes eram mais para filme de terror, não para
time de futebol, porque jogava lá, estreava, praticamente, um jogador chamado
Valdomiro, que jogava, se não me engano, contra o São Paulo de Rio Grande. E eu
cresci acompanhando o Internacional. Eu ia na Churrascaria Boi na Brasa porque
o proprietário era o Manuel Tavares. E eu até consegui, numa oportunidade e o
Carlos Eduardo Silva conhece bem a história, ser chamado ao gabinete do
Prefeito Guilherme Socias Villela, junto com Veríssimo do Amaral, que
perguntaram se eu tinha a coragem de fazer um parecer técnico, contrariando
todos os outros pareceres técnicos, para doar uma área ao Parque Gigante do
Internacional. E a alegação é que havia equipamentos demais para terrenos de
menos. O Parecer foi tão bem feito que invadiu terreno do DNOS, que até hoje
não foi doado, e que ficou cedido até 2.035 ou coisa que o valha e viramos
conselheiros eu, o Veríssimo e o Dr. Villela, não sei se por causa disto ou
não. Reverencio aqui, também, ao ouvir aquele hino, de Nelson Silva que faleceu
numa casa em outro dos meus amores, na Vila Restinga, ele que foi um próprio
hino, que fez o Hino do Internacional e ao qual eu nunca perdoei, pois dizia
que seus “astros cintilam num céu azul”, sempre dizia que aquela frase não era
a mais adequada. E eu me lembro de um influente e próspero colorado que foi
falar com Strougo uma vez, para dizer a ele que o mesmo não iria ganhar a
eleição para Presidente do Internacional, iria perder a eleição e o Strougo me
contou que disse que tinha orgulho até de perder a eleição para Presidente,
ganhar era a glória, mas perder já era uma honra. Vejo o seu filho, hoje, como
Vice-Presidente.
Então, meus senhores e minhas senhoras, o Internacional, na verdade, é
mais do que um clube, é uma lição de vida, um clube democrático. É um clube em
que a gente vai lá para assistir a um jogo, à tarde, até os locais das cadeiras
estão definidos: tem a ala Adil Souto e Amorim num lado; Marcelo Feijó e
Gilberto Medeiros no outro; a Jessi e o Comandante Mancuso num outro; a ala do
Asmuz do outro lado; a ala Carvalho Leite e Ferrari, com seu rádio imenso. A velha
guarda na tribuna de honra. O Internacional é clube que nas eleições não tem
aqueles compromissos fechados, definitivos, eles sempre encontram uma forma de
se transmutarem, de se mexerem e às vezes darem resultados diferentes (menos a
eleição do Dallegrave, onde o número de votos foi aquele que se colocava desde
o primeiro dia).
Mas, o Internacional é isto, o Internacional é a história da Cidade. Se pode fazer e escrever a história do Rio Grande do Sul com os conselheiros e a diretoria do Internacional e do Grêmio, porque aquilo é mais do que um clube, aquilo é a Cidade, aquilo é o espírito gaúcho, aquilo é liberdade. E eu termino com uma frase que li hoje na “Zero Hora”. É uma frase que só poderia vir de uma pessoa que anda por este País, neste Continente inteiro, e onde estiver o Internacional ele estará lá, não sei como, mas estará e dizia hoje na “Zero Hora”, que “tentou entrar um dia enrolado na bandeira do Internacional e apanhou dos brigadianos” e aí, o Xuxu disse essa frase que só um colorado pode dizer: “Não me importo de apanhar de brigadiano, eu só não gosto é de perder para o Grêmio”. Muito obrigado. (Palmas.)
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com muito prazer, alterando
também o protocolo, concedemos a palavra ao nosso Prefeito Olívio Dutra. Não
sei se ele vai falar como Prefeito ou como Conselheiro.
O SR. OLÍVIO DUTRA: Nobre Ver. Valdir Fraga,
Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; companheiro Pedro Paulo Zachia,
Presidente do Sport Club Internacional; companheiros Vereadores; senhoras e
senhores. Eu quero ler uma poesia em homenagem ao Colorado, a sua direção, aos
seus atletas e a sua torcida na qual me incluo. Leio porque recebi a licença de
um outro Colorado autor da poesia para fazer essa leitura no dia de hoje, dos
80 anos do Internacional, o poeta é Laci Osório, uma glória também das letras
da nossa terra. (Lê.)
“A nave do Beira-Rio
Na aquarela dos estádios/ correm pés iluminados/ meteoros de chute e ritmo/ traçando os rumos do gol./ Enormes painéis de luz/ tardes de cor e de sons./ E a bola é o sol da noite/ vai filmando multidões./ E os olhos vêm a estrela/ veloz e branca descendo/ nos horizontes do gol./ Futebol - passes relâmpagos/ no palco valsam chuteiras/ em ritmos de balé./ Esferas nos pés detonam/ reta e curva pelo espaço/ para o grito o-eco-e-o-gol./ É que o globo entrou em órbita/ na atração das goleiras./ Porcelana branca - a lua/ vai rolando geometria/ agitadas mãos e vozes/ - a borboleta que voa/ morre nas redes - e o grito/ vai se forrar de bandeiras./ No verde céu do gramado/ explodem fogos de gala/ o coral do clube é o hino/ - e se incendeia o Gigante/ vai o Inter coloreando/ - aurora rubra e esplêndida -/ a esquadra dribla e avança/ fecha o cerco - bombardeia/ rompe a nuvem tricolor/ flue o sangue, a luta, o ímpeto/ o coração do estádio/ navegando se levanta/ na nave do Beira-Rio.
(a) Laci Osório”
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: É com satisfação e muita
honra para esta Casa que concedemos a palavra ao Sr. Paulo Zachia, Presidente
do Sport Club Internacional que vai falar em nome de sua entidade.
O SR. PAULO ZACHIA: Sr. Presidente da Câmara
Municipal, Ver. Valdir Fraga; Sr. Prefeito de Porto Alegre, Olívio Dutra;
Conselheiros; Vice-Presidentes; Diretores; torcedores do Sport Club Internacional,
senhoras e senhores. Agradeço inicialmente às manifestações de apreço dirigidas
pelos Srs. Vereadores ao Sport Club Internacional, em especial à iniciativa do
Ver. Nelson Castan que consciente da magnitude desta data abriu o Plenário da
Câmara Municipal à nação colorada. O Sport Club Internacional tem, nas suas
mais remotas origens, a tradição e o compromisso de ser o clube de todos,
independente de raça, credo ou posição social. É justamente por isso que a
homenagem desta Casa, que é a Casa de todos, tem um sentido especial para todos
nós. Oitenta anos de história é, antes de tudo, a responsabilidade de honrar as
idéias daqueles que nos antecederam. Falar em nome desses 80 anos é reverenciar
a memória dos tantos que com trabalho e dedicação fizeram da camisa vermelha um
porta-voz do exemplo de garra e perseverança do povo do Rio Grande. Da Chácara
dos Eucaliptos ao Gigante da Beira-Rio grandes homens ergueram os alicerces
para que se construíssem os momentos de glória que o esporte vem oferecendo àqueles
que através dos tempos reconheceram na sua prática um modelo de convivência
gregária e edificante. Permito-me evocar, neste instante, alguns lances da
épica construção de nosso estádio. Os núcleos colorados, espalhados por toda
Cidade, recolhiam como fruto da dedicação da torcida as doações que aos poucos
possibilitaram a construção do que é hoje um dos cartões postais mais
conhecidos de Porto Alegre. É o exemplo da união para a realização da obra que
deve permanecer e inspirar nossos atos. Assim como cada tijolo que com
sacrifício foi cimentado para que se erguesse o Beira-Rio, cada torcedor
colorado tem seu lugar nesses 80 anos que agora se celebram. O Internacional é,
hoje em dia, mais do que um time de futebol, um complexo esportivo que se estende
às margens do Rio Guaíba. O romantismo do passado não foi esquecido mas, aos
poucos, e cada vez mais, um clube do tamanho do Sport Club Internacional deve
ser pensado e administrado como uma empresa. É esse o desafio dos anos que
virão. Pesquisa, planejamento, estratégia, computadores e emoção, esses são os componentes de um clube que só
pensa em crescer. O contraste entre os tempos em que jovens comerciantes
chegaram a Porto Alegre e reuniram-se para, como contam os jornais da época,
cultivar a prática do belo esporte bretão, e os dias de hoje, são imensos.
Permanece, porém, uma linha que une a todos que aprenderam o torcer pela camisa
vermelha: o respeito ao esporte e a vontade de vencer. A Cidade que homenageia
o Colorado cresceu com ele. Esperamos refletir cada vez mais a pujança de Porto
Alegre. Nossas histórias se confundem e isso é motivo de orgulho para todos
nós. É uma honra estar neste momento representando os 80 anos de história do
Clube do Povo do Rio Grande do Sul. A todos que tomaram parte nesta caminhada o
nosso muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Senhores convidados,
autoridades, diretores do nosso Internacional, nós temos o Gigante da
Beira-Rio, mas nós temos também os “gigantes” do Beira-Rio, nossos ex-Presidentes
e hoje a nossa jovem diretoria do Internacional está aí, levando o
Internacional muitas vezes com algumas dificuldades, mas com firmeza e eu tenho
certeza que, em nome dos Vereadores, das pessoas que estão nos assistindo, não
só os torcedores mas em nome de toda a Cidade, eu e meu companheiro Prefeito de
Porto Alegre desejamos uma grande vitória amanhã: gremistas e colorados.
Então, Zachia, os nossos cumprimentos pelos 80 anos, muito sucesso e
que o Internacional vença a primeira etapa e chegue até a Copa do Mundo.
Encerramos e ao mesmo tempo vamos ouvir o Coral do Internacional.
Muito obrigado e uma boa tarde a todos.
(Levanta-se a Sessão às 18h22min.)
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